[Resenha] Léxico, de Max Barry

18 fevereiro 2016
Páginas: 368
Lançamento: 2015
Editora: Intrínseca
Classificação: 
Uma organização treina jovens talentosos para controlar a mente e o comportamento das pessoas usando combinações específicas de palavras. Os iniciados deixam suas verdadeiras identidades para trás e passam a usar nomes de poetas.
Identificada como um prodígio na arte da persuasão, Emily Ruff, que ganha a vida com truques de cartas nas ruas de São Francisco, é enviada para o treinamento em uma escola da organização e começa a aprender a técnica letal. Quando os líderes da instituição descobrem que ela está se envolvendo com outro aluno, Emily recebe uma missão aterrorizante.
Wil Parke, carpinteiro, sofre de amnésia. Um dia ele já soube o significado da palavrárida, um artefato com o poder de colocar o planeta em risco. No entanto, não lembra mais. Wil é sequestrado por dois agentes brutais, que acabaram de matar sua namorada, desesperados para impedir que um membro da organização, de codinome Virginia Woolf, cause uma grande destruição.
As expectativas não eram altas quando tirei o Léxico da estante da loja, assim como o preço (As lojas Americanas andam fazendo umas parcerias com editoras e criando ótimas promoções), isso mais a bela edição da Intrínseca e não resisti. Nunca ouvi falar de Max Barry, por isso sua obra foi para lista de espera, mas minha curiosidade fez com que buscasse um pouco a respeito e aqui estamos nós.


O livro conta de forma paralela a história de dois dos personagens, uma delas é Emily Ruff, uma jovem independente que teve que se virar sozinha nas ruas, com habilidade natural para trapacear e um dom para rebeldia. Ela ganha a vida ganhando dinheiro das pessoas que ela consegue atrair e manipular com seus jogos de “sorte” até que um encontro muda seu destino.
Ela não curtia realmente ler, mas gostava do modo como os livros eram pistas. Cada um deles era uma peça de um quebra-cabeça. Mesmo quando não se encaixavam, elas revelavam um pouco mais sobre que tipo de imagem ela estava formando.
Um convite para ser testada e admitida em uma escola diferente, onde “coisas realmente importantes” são ensinadas; a escola pertence a uma organização internacional, histórica e secreta e daí vem à trama do livro. Logo cedo Emily descobre que estão ensinando aos jovens, técnicas de persuasão, ela tem aulas de filosofia, psicologia, gramática, história de civilizações antigas, política, neolinguística e aos poucos ela percebe que tudo isso a preparava para algo maior que argumentar e convencer, algo místico e poderoso, as palavras têm poder de penetrar na mente humana e desativar defesas, tornando a pessoa susceptível a instruções, e ela iria aprender isso. Palavras não são apenas símbolos, conjuntos de fonemas, ou unidades de significado, as palavras certas são um meio poderoso de se conseguir o que quer.


Esse léxico têm sido estudado ao longo do tempo, em diversas sociedades, e as pessoas também. Existem classificações para personalidades que permitem aos Poetas (pessoas que usam bem as “palavras”) saber que conjunto de palavras funcionará em cada um, se você souber o segmento que o indivíduo pertence, poderá controla-lo.
Uma palavra é uma receita. Uma receita de uma reação neuroquímica particular. Quando digo BOLA, seu cérebro converte a palavra em significado, e essa é uma ação física. Você pode vê-la num eletroencefalograma. O que estamos fazendo, [...] é pôr receitas nos cérebros das pessoas para causar uma reação química e superar os filtros. Atá-los apenas tempo suficiente para deixar passar uma instrução. E você faz isso pronunciando uma sequência de palavras fabricadas para o segmento psicográfico da pessoa. Provavelmente palavras que foram inventadas décadas atrás e que têm sido fortalecidas desde então. E é uma sequência de palavras porque o cérebro tem camadas de defesas, e, para a instrução passar, todas elas precisam ser desabilitadas ao mesmo tempo.
Logo no início do livro, conhecemos o outro protagonista Wil Parker. Uma cena confusa, misteriosa, mas cheia de ação abre o livro, conhecemos mais alguns personagens e percebemos o porque do interesse por esse rapaz, de alguma forma, ele não pode ser comprometido com nenhuma palavra conhecida, o que o torna importante para acabar com uma ameaça: Uma palavrárida. É um tipo diferente de palavra, antiga, mágica e assombrosa, ergueu e derrubou impérios inteiros, sempre que surgiu na história uma sociedade, um reino ou império, conheceu seu fim e agora ela está aqui.


Pode parecer confuso e "bem imaginativo", mas é bem interessante, envolvente e coeso, até queria mais informações sobre esse poder místico da palavra, algumas explicações passam muito rápido. De fato é uma ótima ficção e traz reflexões pertinentes para o mundo real, como o uso do poder, a influência da mídia na manipulação em massa, responsabilidade e comprometimento com uma causa na qual se acredite, e o amor, sim, amor! Apesar de dinâmica, cheia de ação, com alguns cenários violentos, o romance não ficou de fora, mas particularmente, foi aí que desandou.
[...] Ela pensou no que ele dissera. Sobre não precisar falar uma coisa para torná-la real. Isso contradizia o que lhe tinham ensinado. O cérebro usava linguagem para estruturar conceitos [...] As palavras tornavam as coisas reais, pelo menos de uma maneira importante. Mas também eram apenas símbolos. Eram rótulos, não as coisas que rotulavam. Não se precisava de palavras para sentir. [...] Ele a amava. Emily estava certa disso. Todas as evidencias indicavam que sim. Portanto, por que não dizer? Essa era a parte que a importunava. Sim, tudo bem, no mundo de Harry você não precisava dizer alguma coisa para ela se tornar real. Mas sem essa.
Quer dizer, talvez o autor tenha tentado agradar gregos e troianos, porque para mim o livro teve dois finais; você pensa que acabou, vibra porque o fim foi inesperado e surpreendente, mas percebe que ainda há duas páginas a serem lidas. Parece aquela cena de final alternativo que vem no DVD do box da série, uma desculpa dos roteiristas por não terem feito o que os fãs desejavam. Isso me fez mudar um pouco a visão do livro e classifica-lo como 4 estrelas, mas foi uma leitura incrível, não desgrudei do livro e recomendo a dar uma chance, não tem como não se envolver.

PS: Se achei a edição da intrínseca bonita, o que dizer dessas edições americanas?


- Anelise Azevedo

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