[Resenha] O fim da Eternidade, de Isaac Asimov

09 novembro 2015
Páginas: 225
Lançamento: 2007
Editora: Aleph
Classificação: ★  Favoritado!
Andrew Harlan é um Eterno: membro de uma organização que monitora e controla o Tempo. Um Técnico que lida diariamente com o destino de bilhões de pessoas no mundo inteiro: sua função é iniciar Mudanças de Realidade, ou seja, alterar o curso da História. Condicionado por um treinamento rigoroso e por uma rígida autodisciplina, Harlan aprendeu a deixar as emoções de lado na hora de fazer seu trabalho.
Tudo vai bem até o dia em que ele conhece a atraente Noÿs Lambent, uma mulher que abala suas estruturas e faz com que passe a rever seus conceitos, em nome de algo tão antigo quanto o próprio tempo: o amor. Agora ele terá de arriscar tudo - não apenas seu emprego, mas sua vida, a de Noÿs e até mesmo o curso da História.
Da extensa obra de Isaac Asimov, "O Fim da Eternidade" (publicado originalmente em 1955), junto com a série "Fundação e The Gods Themselves", está entre os melhores livros escritos pelo autor, e é considerada uma das mais bem-sucedidas histórias de viagem no tempo.
Devo dizer que tenho uma queda por autores cuja fama os precede. Isaac Asimov é considerado um dos “Três grandes” da ficção científica, ele escreveu mais de 500 obras, entre ficção, romance, suspense, contos e textos de não ficção. Sua obra mais famosa é a Trilogia Fundação, ou Série Fundação, pois conta com mais 4 textos de extensão da trilogia. Mal podia esperar para ler algo de sua autoria, mas preferi começar por um livro menor e que não fosse parte de uma serie. Há alguns anos li ‘Admirável mundo novo’ de Aldous Huxley, uma ficção científica consagrada que me arrebatou para o gênero. Ver como esses autores imaginavam o futuro é fascinante e sedutor, entender o universo que eles criaram é um desafio prazeroso, além disso, as estórias carregam reflexões sociais, filosóficas e científicas que ainda são atuais. ‘O fim da eternidade’ é um romance e não uma ficção cientifica, como pensei, mas não falta nada para tal, se passa no futuro, tem viagens no tempo, tecnologia avançada e mostra impactos da ciência sobre a humanidade, portanto eu decidi que é um romance de ficção cientifica.


Queria devorar as mais de duzentas páginas o mais rápido possível, mas logo nos primeiros capítulos tive de reduzir o ritmo para tentar digerir as explicações sobre realidade do livro, alias a palavra Realidade no livro descreve os fatos correntes no Tempo e espaço, o mundo; enquanto a Eternidade é uma organização criada para monitorar e controlar a Realidade. Não é uma leitura difícil, se você nunca leu nada do gênero, ‘O fim da Eternidade’ é uma ótima escolha para começar. As explicações sobre a estrutura complexa criada por Asimov e seu funcionamento quase sempre são diretas ou trazem analogias, mas devo informar que tudo é apresentado de forma intensa. Levei um tempo para assimilar algumas ideias, e parei para refletir sobre outras, foi interessante perceber particularidades na forma que Asimov tratou temas sempre presentes na ficção cientifica, como evolução, integração homem-máquina e paradoxos temporais.
— Eu às vezes pensava na Eternidade como ela era a principio, quando foi estabelecida. Abrangia apenas alguns dos séculos 30 e 40, e sua função era, na maior parte, comércio. Interessava-se no reflorestamento de áreas desnudadas, transportando terra fértil para trás e para frente, água fresca, substâncias químicas de boa qualidade. Aqueles eram dias simples. Mas então descobrimos as Mudanças de Realidade. O computador Sênior Henry Wadsman, da maneira dramática com que estamos todos acostumados, evitou uma guerra removendo o freio de segurança do veículo de um dos congressistas. Depois disso, mais e mais, a Eternidade mudou seu centro de gravidade, de comércio para Mudança de Realidade. (Computador Sênior Twissell).
A Eternidade foi possível graças à descoberta de viagens no tempo no século 24 e a construção do Campo temporal no século 27, algo que permite a Eternidade e seus membros existir ‘fora do tempo’ e, portanto seus atos na Eternidade não interferem na Realidade. Eles controlam o curso da humanidade até os séculos 70.000, além disso, estão os Séculos Obscuros, onde não conseguem interferir diretamente, e depois dos séculos 150.000 a humanidade já não existe. Se você curte uma boa ficção já entendeu que Isaac deu um jeito de deixar os paradoxos praticamente fora do enredo. As Mudanças Mínimas Necessárias, M.M.N., são introduzidas por indivíduos que não existem na Realidade e os efeitos de cada uma delas são calculados minunciosamente nos computaplexs e esboçadores de vida de modo a alcançar os Resultados Máximos Desejados, R.M.D., sem que haja reações indesejadas. Além disso, existe o conceito de inércia temporal, “Não há paradoxo no Tempo, apenas porque o Tempo evita deliberadamente os paradoxos.” Ou seja, os efeitos das mudanças podem ecoar por um tempo, mas a Realidade tende a retomar seu curso.

Os membros da Eternidade são os eternos, os mortais inconscientes de tudo isso são os tempistas. A coisa toda funciona como uma sociedade estratificada com líderes, funcionários em diversas funções, conjunto de normas, obrigações de cada um, e privilégio para poucos, mas o trabalho é integral e envolve privações; em troca a garantia que nenhuma mudança afetará sua existência e você não terá que enfrentar realidades adversas. Os membros são escolhidos e treinados bem jovens, de modo que não tenham constituído família, e uma vez Eternos, não devem casar-se ou ter filhos. Andrew Harlan conhece e aceita tudo isso, as mudanças que os técnicos iniciam afetam a vida de 50 bilhões de pessoas por gerações, sem contar fauna e recursos naturais do planeta por exemplo. Técnicos devem ser frios e impessoais, ele sabia e era bom nisso até o surgimento de Noys.
Não que Harlan nunca tivesse visto antes uma garota na Eternidade. Nunca era uma palavra muito forte. Raramente, sim, mas nunca, não. Mas uma garota como aquela! E na Eternidade!
O que significava os bilhões de pessoas no Tempo para ele, quando havia uma apenas para eternidade? A resposta: “Ele arruinaria a Eternidade, se tivesse de fazê-lo”. Noys foi levada a Eternidade para realizar uma tarefa, ela mexeu com Andrew assim que ele a viu e depois de uma fase de culpa e negação, o técnico foi arrebatado pela mulher e o romance se desenrola, nada muito mágico, nada muito detalhado, falando nisso, nem mesmo os nossos personagens são descritos com muitos detalhes do passado ou personalidade, apenas o que é crucial para estória. E eis mais um aspecto brilhante de Asimov, você vai perceber que tudo está no texto por um motivo, e o que está nele será o suficiente, tudo está conectado e tudo será respondido. É ai que você tem estalo e tudo parece fazer sentido, a linha de tempo aparentemente quebrada do início da narrativa (Presente que parece o futuro, mas é o passado > passado onde tudo começou > Presente que ainda é passado > Futuro que é o presente após o ponto passado onde começamos) começa a fluir de uma forma que o leitor pressente a conclusão. 

Nesse ponto você está familiarizado com o funcionamento e mistérios do Tempo, você entende tudo, sabe como Harlan pretende agir, as coisas se encaixam e você pensa: Acabou!

— Pai Tempo! Você não podia estar mais enganado!

Este não é o fim, os últimos capítulos ganham um ritmo frenético e as reviravoltas vão acontecendo até as últimas páginas em um clímax perfeito, uma muy grata surpresa. Em parte porque eu tinha minhas hipóteses, e todas pareciam igualmente possíveis, mas nenhuma era a do autor. Apesar da narração em terceira pessoa, todo conhecimento que temos da Eternidade nos é dado pelos diálogos e reflexões dos Eternos e se eles não conhecem tudo, nós também não. Em parte porque por trás de toda a prepotência, poder e quase onisciência da Eternidade, de uma forma quase que irônica vamos descobri que eles, assim como nós, leitores, nada sabiam sobre tudo, e o quanto somos insignificantes em nossa pequenez se comparados ao universo e a toda existência, e ao mesmo tempo capazes de coisas grandes o suficiente para mudar o curso da história. Por fim, é impossível ler algo do gênero e não refletir sobre nosso futuro, as ações do homem para com o planeta e seus pares e nossa responsabilidade individual nisso tudo.

Curiosidade: Isaac Asimov aceitou um desafio do New York Times e publicou um ensaio em 1964 com uma série de previsões para o ano de 2014. Dos fatos que o autor imaginou estarem presentes na atualidade, muitos se confirmaram como a tv com tela plana, a tv em 3D, o uso de videoconferências e micro-ondas em nossas cozinhas, porém o mais curioso é a precisão como ele descreveu algumas coisas, tais como as viagens a marte apenas com naves não tripuladas e a existência de planos para expedições e até mesmo para formação de uma colônia em marte; descreveu micro computadores de mãos que combinam perfeitamente com nosso smartphones, previu com quase previsão nossas relações de trabalho, avanços na medicina, expectativa de vida e problemas de saúde no século XXI. Como se não bastasse, Isaac chamou atenção para a má distribuição de renda na terra e como a tecnologia é uma ferramenta de transformação de vidas, porém se não a tornamos acessível poderá se virar contra nós. Mr. Asimov errou em algo? Sim! Ele esperava que carros flutuassem sobre terra ou água, não precisaríamos mais de pontes, o que é muito pouco se comparado à quantidade de acertos.
Quer conhecer todas as previsões? Clique aqui!

Anelise Azevedo

2 comentários

  1. Olá Anelise, tudo bem contigo ???
    Simplesmente amei a sua resenha, você conseguiu me deixar extremamente curiosa por esse livro.
    Sou apaixonada por ficção científica, adoro os livros do gênero, mas confesso que não leio muito o gênero pois eles sempre deixam o meu cérebro doidinho, rsrsrsrs. Não conhecia esse livro, mas gostei muito da premissa, já anotei o título na minha listinha e pretendo ler assim que possível !!!

    Beijinhos
    Hear the Bells

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    Respostas
    1. Melhor agora com seu comentário. Que bom que gostou, vale mesmo a pena ler!
      Para mim esse é o barato da ficção cientifica: dar uma embaralhada geral e depois tudo ir se encaixando.

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